«Há exercícios para treinar a verdade, como, por exemplo, ter medo. Ou então ter fome. Depois restam exercícios para treinar a mentira: todos os grupos são isto, e todos os negócios.
Estar apaixonado é outra forma de exercitar a verdade.
Klaus comandava pela primeira vez os negócios da família. Não tinha medo, nem fome, nem estava apaixonado. Cada dia era, pois, um exercício novo da mentira. Já tinha feito a vida real (tinha-a feito como se faz uma construção, algo material), agora começara o jogo: ganhar mais dinheiro ou menos. Nada de essencial; mas a mentira interessante é aquela que quase parece verdade. Klaus sentia necessidade de transformar aquele jogo em algo fundamental. E faria isso até ao fim. Como fizera antes, na guerra e na prisão. Quase não via, aliás, diferenças nas três situações: era preciso ganhar ou não perder, e ele estava só. Eis tudo.»
Romance sobre a sobrevivência de um homem forte, Klaus Klump, no meio da guerra.
Nomeado Prix Jean Monnet de Littérature Européenne 2015 (França)
SOBRE O AUTOR:
Gonçalo M. Tavares é autor de uma vasta obra que está a ser traduzida em países como a Índia, Japão, Suécia, Dinamarca, China, Cuba, África do Sul, Indonésia, Islândia, Turquia, Palestina, Iraque, Egito, Moldávia, Estónia, Israel, Venezuela e Estados Unidos da América, num total de setenta países.
A sua linguagem em rutura com as tradições líricas portuguesas e a subversão dos géneros literários fazem dele um dos mais inovadores escritores europeus da atualidade. Recentemente, Le Quartier (O Bairro), de Gonçalo M. Tavares recebeu o prestigioso Prix Laure-Bataillon 2021, atribuído ao melhor livro traduzido em França, sucedendo assim à Nobel da Literatura Olga [okarczuk, que recebeu este prémio em 2019, e ao escritor catalão Miquel de Palol. Ao longo das suas várias edições, já receberam o Prix Laure-Bataillon autores como Giorgio Manganelli, Bohumil Hrabal, W. G. Sebald, Derek Walcott, John Updike, Hugo Claus e Hans Magnus Enzensberger, entre outros. De entre a sua vasta bibliografia, vinte e duas das suas obras já foram distinguidas em diferentes países. Foi seis vezes finalista do prémio Oceanos, tendo sido premiado três vezes. Foi ainda duas vezes finalista do Prix Médicis e duas vezes finalista do Prix Femina, entre outras distinções de relevo como o Prix du Meilleur Livre Étranger em 2010.
Saramago vaticinou-lhe o Prémio Nobel. Vasco Graça Moura escreveu que Uma Viagem à Índia dará ainda que falar dentro de cem anos. A The New Yorker afirmou que, tal como em Kafka e Beckett, Gonçalo M. Tavares mostrava que a «lógica pode servir eficazmente tanto à loucura como a razão».
«Gonçalo M. Tavares tem a perspicácia e o poder de observação que são fundamentais para toda a sua escrita, em qualquer dos géneros que ele pratica. […] Escutar as palavras, eis o que este escritor faz em tudo o que escreve. E é essa enorme capacidade que faz dele um grande escritor.» [António Guerreiro, Público]
«É um escritor douto, capaz de abarcar um largo espectro de temas, de formas de linguagem, é imensamente culto e consegue trazer essa cultura para dentro dos seus livros.» [João Barrento]
«Há um antes e um depois de Gonçalo M. Tavares.» [José Saramago]
«Escritor genial.» [Enrique Vila-Matas]
«Porque é que havemos de pôr as coisas em termos de Nobel?! Talvez fosse preferível pensar-se: “Poderão ser grandes escritores ou não?” […] O mais cotado parece-me, sem dúvida, o Gonçalo M. Tavares. Sem dúvida.» [António Lobo Antunes]
«Tal como a Saramago, dá-me vontade de lhe dar uma palmada amigável na nuca.» [Mathias Énard]
«O Reino é a meditação mais incisiva que li em muito tempo sobre o nascimento do fascismo.» [Juan Gabriel Vásquez]
«Há grandes autores portugueses vivos — Agustina Bessa-Luís, António Lobo Antunes e Gonçalo Tavares — que podem equiparar-se aos grandes escritores estrangeiros vivos.» [Pedro Mexia, Antena 3, Julho de 2018]
«De onde vem esta alminha negra e libertária sem acinte? Este talento tão só consigo mesmo, por mais referências que jogue? Esta frieza a quente.» [Maria Velho da Costa]
«Estou apaixonada pelo escritor português Gonçalo M. Tavares: um escritor magnífico.» [Jeanne Moreau]