«Para mim, era só mais um homem a destacar‑se do fundo prateado. Aceitei o bilhete azul e rasguei‑o em dois. Não olhei para o rosto dele; nunca olho para os rostos deles. Fato cinzento, camisa cinzenta. Camisa limpa.
Foi o meu corpo que o sentiu primeiro. A mão na cintura, a mão que segurava a minha, eram firmes mas não insistentes. Sentia o cheiro dele, uma água‑de‑colónia fresca e cigarros. Alguns meses antes, gastara o ordenado de uma semana na compra de um pequeno frasco de perfume: jasmim‑branco. Não era o meu género; gosto do aroma de pétalas, de flores de cerejeira. Mas queria um perfume intenso, para me proteger do cheiro deles. Não deu resultado.
Por algum motivo, o meu corpo aceitava as mãos dele, o hálito dele, e os meus mamilos estavam duros. Talvez nem se notasse através do vestido de noite preto, mas detestei a ideia.»
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