Foi ao ler Os Pescadores de Raul Brandão que Djaimilia Pereira de Almeida encontrou a frase que haveria de inspirar anos depois A Visão das Plantas.
Raul Brandão fala de personagens que conheceu quando era levado pela mão até ao colégio. Entre eles, estava o capitão Celestino:
“[T]endo começado a vida como pirata a acabou como um santo, cultivando com esmero um quintal de que ainda hoje me não lembro sem inveja. Falava pouco. […] A sua vida anterior fora misteriosa e feroz. De uma vez com sacos de cal despejados no porão sufocara uma revolta de pretos, que ia buscar à costa de África para vender no Brasil. Outras coisas piores se diziam do capitão Celestino… Mas o que eu sei com exactidão a seu respeito é que para alporques de cravos não havia outro no mundo.”
SOBRE A AUTORA:
Djaimilia Pereira de Almeida é autora de vários livros, entre os quais os romances Esse Cabelo, Luanda, Lisboa, Paraíso, As Telefones, Três Histórias de Esquecimento, Ferry e Toda a Ferida É Uma Beleza, vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB 2024. Em 2025 recebeu o Prémio Vergílio Ferreira pelo conjunto da sua obra. Os seus livros e ensaios receberam o Prémio Oceanos, o prémio Ensaísmo Serrote, o Prémio Literário Fundação Inês de Castro, o Prémio Literário Fundação Eça de Queiroz, o Prémio Primeiras Teses e o Prémio Novos. Em 2023, Djaimilia recebeu o Prémio FLUL Alumni, atribuído pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se doutorou, em reconhecimento do seu percurso literário. Ensinou na New York University. Escreve na Quatro Cinco Um e no Observador. Nasceu em Luanda, em 1982. A sua última obra é o Livro da Doença.